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13 de setembro de 2023

Cantinho do pensar ou da disciplina?

             Começo meu artigo pensando num mundo melhor, onde o diálogo prevaleça, que as famílias tão ausentes na sociedade atual, não procurem a forma mais fácil de corrigir seus filhos, apoiadas no pensamento de vários especialistas que colocam esta prática como solução para problemas disciplinares.
             Meus vários anos de estudo  e reflexão, me dá hoje o direito de pensar num cantinho, sobre o que é mais saudável para o desenvolvimento bio-psio-social, o que não conseguiria fazer, sem os pré-requisitos que fui acumulando ao longo da minha existência e após várias pesquisas e estudos na área da Pedagogia , Psicologia e Psicopedagogia.
            Nos dias atuais, é comum ouvir-se de professores, que mandam a criança pré-escolar para um cantinho pensar, quando estas fazem alguma coisa que desagrada. Este pensar, é reconhecido pelo aluno, como castigo, embora muitas vezes ele nem saiba falar direito, e nem das fraldas tenha saído.
            Como professora de Filosofia, tenho uma outra  abordagem sobre o ato de pensar, e não o associo a punição, uma  vez que a reflexão contribui para o aprendizado e também desenvolve o  espírito crítico, contribuindo para o desenvolvimento da inteligência e para o aprimoramento do conhecimento.
            Portanto, quando faço a criança pensar que será castigada, e que tem que pensar, estou demonstrando à ela, que pensar não é um ato que  possibilita buscar soluções para resolver problemas,  e sim  um castigo, porque toda vez que  não agrada, a colocam para pensar.
            Esta  forma  de punição é transferida da escola para casa, e vice-versa, as pessoas não sabem como resolver a indisciplina, que muitas vezes está relacionada com a falta de cumplicidade, de diálogo e de afeto dos envolvidos.
             A criança reconhece quando reprovamos seu ato, mas dependendo da idade, não tem maturidade para entender porque estou acuada para pensar, e fica desolada e desconfiada, o que afetará  seu estado emocional, e poderá trazer outras  consequências para o desenvolvimento social.
 Portanto, evitar  constrangimento é uma forma saudável  de educar, previsto no próprio Estatuto da Criança e do Adolescente  ( ECA -Lei 8069\90).
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição de pessoa em desenvolvimento.

 A Lei 9394\96  de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), trata sobre as finalidades da Educação conforme segue:
Título II - Dos Princípios e Fins da Educação Nacional.
Art. 2. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 3. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;

            Durante mais de trinta anos de magistério, dentro e fora da sala da aula, exercendo função de  professora e Gestora, pude observar quanto o diálogo é importante, sempre apoiado na tolerância.
            Para dialogar você precisa parar o que está fazendo, olhar para criança e vê-la, permitir que ela sinta que sua atenção está  nela e que existe afetividade, cumplicidade, respeito e  carinho.
          Quando um educador manda uma criança pensar, provavelmente ele não quer dispor de tempo para a mesma, ou não sabe que orientação dar naquele momento.
         Quem educa precisa ser inteligente, criativo e receptivo e nunca menosprezar ou subestimar a inteligência de uma criança, reconhecer que ela quer ouvir, argumentar e entender.
         Educar é  um processo a longo prazo, portanto, não espere que sua criança entenda quando você  explica uma vez, duas, três... Tenha paciência, e pense que quando você estiver na velhice, ele terá com você a mesma paciência que você a ensinou a ter na infância.
         Após a troca de diálogo, pais e filhos,  não terão problemas de comunicação,  aprenderão  a se respeitar e a trocar sonhos,frustrações e as experiências concedidas pela vida, onde cada um sabe qual é o seu papel e o seu limite.
         E aos educadores que utilizam o cantinho em sala de aula, deixo a mesma orientação, paciência, amor, afetividade e acima de tudo, compromisso com o ser que está em formação na idade pré-escolar, para que ao chegar no ensino fundamental, ele tenha uma postura mais adequada.
         Educar é um compromisso que começa no útero materno e se estende por toda a existência humana, portanto quem educa deverá aprender que é a persistência e o amor que  elevam as criaturas e possibilita a fala entre as almas.
         Após as críticas realizadas aos educadores que utilizam a prática "do cantinho de pensar", houve uma alteração  do nome
para o "cantinho da disciplina", o que não altera a modalidade do castigo.
         Os pais não devem consentir a propagação desse tratamento no lócus escolar, e estendê-lo para o ceio familiar, julgando  ser uma prática libertadora e a solução da indisciplina da criança.
        Converse com seu filho, quando ele já fala, ouça  e caso não fale, procure conhecê-lo através de suas birras  e outras manifestações, para que possa etendê-lo e juntos pocurar a melhor solução.
       Ser pemissivo também é uma forma de afastá-los,  eles sempre reconhecem quando estão sendo rejeitados ou repudiados, e muitas vezes um sim, é simplesmente para dar um basta ao problema, mesmo que a solução não tenha sido clara.

                                   Irene Fonseca
                        Especialista em educação